Acredito em uma psicoterapia que leve em conta todas as dimensões do ser humano. Somos seres muito complexos e nos fazemos nas relações com os outros. Ainda, estamos inseridos dentro de uma família definida, de uma sociedade específica, de um determinado país, de uma época particular e assim vai. Somos seres biopsicossocias, ou seja, seres de corpos e psiques que estabelecem relações afetivas e sociais entre si. Uma escuta atenta e um olhar para esse todo norteia meu trabalho clínico.
Entendo também que a psicoterapia seja um trabalho de ampliação de consciência sobre si e sobre as relações que são experienciadas, o que afeta diretamente a maneira de se viver e das trocas com os outros. A partir dessa ampliação, nos tornamos mais senhores de nós mesmos e, nesse sentido, mais fortes e mais coerentes com nossos propósitos mais genuínos, muitas vezes inicialmente desconhecidos. Inclusive, enxergo a psicoterapia como busca também desses propósitos que nos movem e que, muitas vezes não estão claros. Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da Psicologia Analítica, já dizia que quem olha para dentro desperta.
Gosto da imagem de uma ilha em um oceano quando penso nesse processo. Há a ilha: uma parte de terra, na qual podemos andar, estabelecer raízes, viver. O resto é oceano, vasto oceano, com profundidade e muita vida desconhecida pulsando. A ilha seria o conhecido, o consciente. O oceano, o desconhecido, o inconsciente. É como se vivêssemos na ilha, em um pequeno pedaço de terra dentro do qual temos aparente controle, mas sofrêssemos, o tempo todo, os efeitos desse oceano, como a subida e descida das marés, como o mar revolto em tempestades e sereno nas calmarias.
O que quero dizer com esta imagem é que temos consciência de uma pequena parte de nós mesmos e que somos afetados diretamente pela parte que não temos consciência. É comum nos sentirmos mal e não sabermos o porquê ou nos comportarmos de maneira não usual e não sabermos o motivo. Quanto mais inconscientes sobre nós, mais propensos a sofrimento estamos.
O processo psicoterapêutico, por sua vez, possibilita que conteúdos inconscientes vão se tornando conscientes, ou seja, proporciona que se aumente o tamanho da ilha e que se tenha mais terra firme para caminhar. Também favorece que entendamos melhor o funcionamento e ritmo do oceano e que lidemos melhor e de forma mais consciente com suas intrusões. Quanto mais terra firme, mais liberdade. Apossar-se de si implica em menor sofrimento. Temos o mundo dentro de nós e ir descobrindo-o, tanto em seus aspectos negativos como positivos, nos dá força e autonomia.
No mesmo sentido, o trabalho psicoterapêutico promove que a dinâmica das relações experenciadas ao longo da vida também vá também sendo desvendada. A maior consciência desse funcionamento e de qual lugar ocupamos nessas relações faz com que tenhamos mais elementos para elaborá-las, ou seja, mais ferramentas para nos entendermos dentro delas, assim como nos questionarmos e até mudarmos maneiras de senti-las ou de vivenciá-las.
"Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências“ —
Carl Gustav Jung
